
Mais de quinhentos anos depois que Cristóvão Colombo chegou à América e 40 anos depois que os americanos fincaram sua bandeira na Lua, é a vez dos russos realizarem sua proeza : colocaram uma bandeira de titânio a 4261 m, nas profundezas abissais do Mar Ártico, para marcar aquele território como seu...uma nova corrida começou, desta vez não é em direção ao "far west", mas ao "far north". E esta febre de conquista desta região não é exclusiva dos russos. Os habitantes da Groenlândia estão pleiteando sua independência da Dinamarca, os canadenses criaram uma base militar na ilha de Cornwallis, os noruegueses, os americanos, enfim os paises que são "banhados" pelo Ártico, tentam reforçar sua presença na região. Até a União Européia está procurando meios de se "posicionar" no Polo Norte.

Mas porque será, não é mesmo? Todo estes povos estão querendo ir lá
para ajudar Papai Noel? Non, non, non, non, o que acontece é que nesta região existe uma imensa reserva petrolífera e 20% das reservas energéticas da Terra, além de urânio, prata, ouro, zinco, chumbo e outras riquezas minerais que até agora eram inacessíveis devido à presença da calota polar. E com o aquecimento climático a calota regrediu de 7,5 milhões de quilômetros quadrados a 4,1 milhões de quilômetros quadrados entre 1987 e 2007, e a fusão se acelera de tal forma que se estima que antes do final deste século (alguns esperam o fenômeno para antes, por volta de 2013) ela não existirá mais no verão. Este fenômeno poderia conduzir mesmo à abertura de uma nova rota marítima comercial pelo norte nesta estação, que economizaria milhares de km de percurso aos navios que passam entre o Atlântico e o Pacífico e serviria para, entre outras coisas, evacuar o petróleo que seria produzido na região!
Agora, o outro lado da moeda são as consequências do aquecimento climático para os habitantes, a fauna e a flora da região. Os habitantes que viviam da caça e da pesca artesanais estão percebendo que esta ficando cada vez mais difícil encontrar suas presas. Para alcançá-las eles assumem riscos sobre as camadas de gelo que estão se tornando menos espessas e ameaçam de se quebrar. Os ursos brancos com o diminuição gradual da "banquise" estão vendo seu terreno de caça invernal desaparecer, o que já acarretou a morte de vários deles. As focas também estão sofrendo com esta redução de seu habitat de reprodução. Quanto aos pastores nômades, a mudança climática perturba suas atividades, pois tem havido mais neve nos invernos porém com as variações bruscas de temperatura esta forma uma camada de gelo que impede os animais herbívoros de alcançar o lichen com o qual se alimentam. O resultado é que as populações, sem seus meios tradicionais de subsistência começam a se aglutinar nas cidades, sem grandes perspectivas de encontrar trabalho.

Além disso, apesar do fato deste degelo da calota polar ártica não conduzir ao aumento do volume dos oceanos, ele contribui para o aumento do efeito estufa pois há uma redução da superficie gelada que reflete a luz do sol (albedo) e "freia" o aquecimento.
Refletindo sobre a situação, os combustíveis fósseis contribuiram para provocar o aquecimento climático o qual por sua vez provocou a degelo do Ártico que acelerou o aquecimento climático num círculo vicioso infernal. Podem os seres humanos usar as próprias consequências deste efeito para ir procurar mais petróleo o qual vai gerar mais CO2, intensificando ainda mais o problema, comprometendo assim as condições de vida das gerações futuras? Não é uma coisa insensata? Mas...Yes, we can...e salve-se quem puder!
Este post faz parte da blogagem coletiva "Ecological Day" promovida pela Sonia do "Leituras" e pela Elma do "Caliandra do Cerrado" que ocorre no segundo dia de cada mês. Participe!
