Todas estas cores, indo do branco opalino ao mais profundo castanho...dá vontade de dizer do, ré, mi, fá, sol, lá, si...mas na verdade é faia, maple, pereira, cerejeira, tech, ipê, ébano ...essências da floresta que nos trazem uma sinfonia de cores. Mas elas nos trazem também outras sinfonias, pois entre as inúmeras utilizações da madeira das árvores, esta a fabricação de instrumentos musicais. Sempre me perguntei quais os tipos de árvores que serviam para nos trazer estes sons maravilhosos que saem de uma flauta, de um violino, de um órgão...e encontrei alguns elementos de resposta para este Ecological Day. Se pensamos nos sons que nos vem das magníficas catedrais com seus imponentes órgãos por exemplo...os mais antigos foram feitos de carvalho, castanheiro, pinheiro ou outras madeiras "de proximidade". E é interessante que se observa que os mais antigos mantem a qualidade do som, enquanto os realizados no século XIX necessitam de restauração, pois as madeiras usadas então, como a nogueira e as coníferas, tiveram sua composição alterada com o tempo.No entanto, o tipo de material tem mais importância no caso dos instrumentos de corda que nos de sopro, nos quais o corpo sonoro é o próprio ar e a acústica depende da forma do tubo e/ou do bico...no entanto existe uma controvérsia a este respeito, e muitos fabricantes atribuem uma grande importância à escolha do material, sendo que se observa um retorno ao uso da madeira, que havia sido substituida pelo metal ou mesmo o plástico. Em relação a este, deve-se ressaltar uma experiência que está sendo realizada na Amazônia, na qual vários tipos de madeira alternativas (louro, amapá-doce, breu-sucuruba, copaíba, ipê, maçaranduba, mogno*, açoita-cavalo, tocacazeiro e tauari) estão sendo avaliadas com sucesso para substituir o plástico na manufatura de gaitas no Brasil. Quanto aos instrumentos de corda, encontrei o seguintetexto em relação ao violão : "Cada parte do violão cumpre uma função importante e específica na obtenção de um certo resultado. É preciso entender que a maneira como o violão é construído exige que cada parte tenha uma característica peculiar. Ao contrário do que muitos pensam, o que determina a qualidade da sonoridade do violão é o tampo. O fundo serve praticamente que só para refletir o som produzido pelo tampo. então temos as seguintes funções: o tampo tem de vibrar de forma flexível, para que o som se propague com facilidade, mas também organizada, para que haja equilíbrio em todas as regiões, grave, média e aguda. O fundo tem de ser uma madeira mais rígida, para refletir o som do tampo sem interferência. Essa estrutura tem de ser mantida de pé, então o "esqueleto" do instrumento tem de ser feito com uma madeira forte e durável, mas também flexível. A escala tem de ser feita com madeiras muito estáveis, pouco porosas, para manter a estabilidade e não se alterar com mudanças de temperatura e umidade. No passado, inúmeras experiências foram feitas e chegou-se a um formato básico que inclui o abeto ou o cedro americano (ambas coníferas, aparentadas com o pinho) para o tampo, uma madeira da família do jacarandá ou do ácero para o fundo e laterais, o cedro para a parte posterior da escala e o ébano para a escala propriamente dita. é possível substituir todas essas madeiras por similares mais baratos, e, no caso da escala, até por material plástico, mas o resultado é geralmente inferior à combinação clássica..."(texto daqui) E o rei dos instrumentos, o violino? Stradivarius verificando um de seus instrumentos (Wikipédia) Estudos científicos recentes (fonte aqui) mostraram que a magnífica sonoridade dos violinos Stradivarius está relacionada com a homogeneidade da densidade das madeiras usadas em sua fabricação. Segundo eles, por volta de 1700, época em que ele confeccionou seus melhores violinos, houve uma redução da atividade solar que provocou um frio intenso, que influenciou o crescimento E poderíamos falar ainda das madeiras utilizadas para os pianos, para as harpas, para os instrumentos de percussão...afinal, o que existe é mais belo que falar da floresta e da música, não é mesmo? Mas não podemos esquecer que para que elas existam sempre, as recomendações para o uso da madeira de modo a preservar as florestas devem ser respeitadas: - utilizar de preferência madeiras das proximidades, - utilizar sempre madeiras com certificados FSC - escolher as madeiras certificando que as florestas das quais elas são originárias são exploradas de modo sustentável e respeitando os povos indígenas. Lista das características das madeiras usadas na confecção deinstrumentos musicais Projeto para estudar madeiras alternativas da Amazônia para a fabricação de instrumentos musicais |
2.9.09 |
Autor: Maria Augusta
Categoria:
blogosfera,
meio ambiente
|
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16 comentários :
Grande, e muito AFINADA postagem !!!
O som das madeiras!
Oi, Maria Augusta
Retornando? Espero que tenhas aproveitado bem esta tua semana de “folga”.
Muuuuito interessante o teu texto e a “trilha sonora” melhor ainda!
"Na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”
Sábia Natureza...
Bjs
Maria Augusta, que post mais original e interessante! Eu desconhecia a importância de determinadas espécies para um específico resultado na sonoridade dos instrumentos. Os links também são muito informativos, como a Lista de Espécies da Flora Ameaçadas de Extinção. A sinfonia que você escolheu também ficou perfeita. Obrigada por mais esta excelente participação no Ecological Day.
Last but not least, como dizem os americanos, muito obrigada pelos comentários e pelo carinhoso parabéns à Sofia, que agradece!
Bjs.
Maria Augusta
A imagem inicial de sua postagem é deslumbrante com os lápis em tons da terra: siena, marrom, ocre, castanho, bege formando uma bela paleta de cores, ou como diziam os pintores mais antigos: o "godê".
Muito esclarecedora as informações da importância da madeira na confecção de instrumentos musicais.
Se a gente quiser pode ver e sentir a arte por todos os lados, ela está sempre presente na nossa vida.
Fiz hoje uma postagem sobre um pintor de Goiás que foi meu professor num período muito importante e que determinou de forma positiva o meu conceito sobre arte. Ele tinha um compromisso com o sério, o belo, as cores e com a estética das formas como veículo de suas reflexões.
Arte para ele tinha que ser expressa de forma completamente isolada de opiniões filosóficas ou particulares do ser humano. Achava que o papel do artista não era em sentido social, nem político, e nem teria de possuir poderes para se transformar num gerador de opiniões ou polêmicas, ele até se sentia uma pessoa muito simples. O resto é “balela”, é estrelismo. Um artista não tem que ser necessariamente um filósofo, nem tampouco um formador de opiniões e nem se servir de sua arte para sair cutucando a consciência das pessoas. Quem deve tocar a consciência são os líderes, sejam eles políticos ou religiosos.
E sua arte era algo à parte, seu compromisso era com a criação.
Sua paleta de lápis fez-me lembrar das cores que o Cleber usava em suas telas.
O clima aqui ficou melhor ainda com a música, e da música feita do material que a natureza nos proporciona. Aqui no seu jardin, se respira arte e muito requinte.
Adorei sua visita e bem vinda à blogosfera.
Beijooo
Acho que vou aprender a tocar lápis. Obrigado pela riqueza da informação e bem regressada.
Uau, que riqueza de post este seu... Bravo. Fiquei eu aqui a lembrar-me das muitas vezes em que eu fui abraçar um árvore e imaginava que poderia ouvir sons como se fosse uma concha junto aos meus ouvidos...
O carvalho é uma arvore sagrada para o paganismo. Há muitas lendas envolvendo essa árvore, mas não me ocorre nenhuma nesse momento. Estou com sono e com a cabeça em poesia. A música passeia por mim, mas de forma distante...
Assim que lembrar-me da lenda em questão, envio a você. Beijos e uma linda noite.
Olá,
Oi, Maria AUgusta. Só vc mesmo para fazer um post assim tão cuidadoso, abarcando tantas nuances.
Hoje estive pesquisando algumas músicas clássicas aqui na nossa FNAC brasileia (paulista, Pinnheiros). E, juro, fiquei me perguntando sobre as origens dos instrumentos.
Voilá. Coincidências. bjs.Liniane
Liiiiiiiiiiiiiiiindo demais esse post, Maria Augusta.
Você voltou das férias afinadíssima com Beethoven!!!
Achei lindo a composicao dos lápis e suas madeiras; se eu tivesse uma colecao desses lápis juro que os colocaria numa moldura;
Meu irmao cacula sempre foi envolvido com música e ele aprendeu o ofício de construir violao. A casa da mamae só viva empoeirada pelas madeiras que ele precisava cortar e polir até dar a forma do corpo do violao. As pecinhas em miniaturas para a colagem todas separadas em vidros e por nomes;
Uma vez a Giannini Guitarras em Sao Paulo o convidou para copiar um modelo que eles tinham mas que a acústica do som saia como eles queriam. Um amigo do meu irmao trabalhava e eles o chamaram e ele descobriu exatamente que o problema estava na madeira. Hoje em dia ele diz que as guitarras nao sao mais feitas assim, eles usam um outro material.
Esse seu post me levou à lindas lembrancas de um tempo em que estávamos todos dentro de casa; na casa dos meus pais.
Um grande beijo e que bom que está de volta senti demais sua falta.
corrigindo: a acústica do som NAO saia como eles queriam...
Eduardo, quando pensamos que o som dos instrumentos que ouvimos vem muitas vezes da madeira, além do trabalho do luthier...
Abraços.
Wania, dei umas escapadas para aproveitar o fim do verão, mas é difícil ficar longe da blogosfera muito tempo rs. Beethoven é demais mesmo...
Um grande beijo para você.
Sonia, é mesmo difícil imaginar quanto a qualidade da madeira tem influência sobre a sonoridade dos instrumentos musicais, existem vários estudos a este respeito. E parabéns mais uma vez para a Sofia, desta vez pela Mamãe que ela tem.
Um beijão.
Elma, é impressionante mesmo esta paleta de madeiras diferentes com todo este espectro de cores...é a natureza exprimindo sua arte. Me lembrou as cores deste artista goiano que você nos fez descobrir, o Cleber. Interessante esta teoria dele, com a separação entre a arte e o credo político, aqui na Europa os artistas são muito cobrados em relação a revelação de suas convicções.
Obrigada pela visita e um grande beijo.
Jorge, pois é, estes lapis devem ter uma sonoridade, pois cada um é feito com uma madeira diferente. Acredito que daria para "tocá-los" mesmo.
Um abração.
Lunna, esta lenda deve ser muito bonita, espero que você a encontre. Imagine tua ansiedade hoje, com a estréia de tua novela.
Um grande beijo.
Liniane, há quanto tempo! Já percebi que aqui na blogosfera acontecem muitas destas "coincidências", que a Teresa do "La vie est belle" chama de sincronicidade (por causa de Jung).
Um beijão.
Georgia, que bom que este post te trouxe lembranças de sua infância, obrigada por trazê-las para nós. E que linda profissão e/ou paixão a do teu irmão, construir instrumentos musicais. E por falar nos novos materiais usados para confeccioná-los, parece que esta havendo uma volta à madeira.
Um grande beijo.
A muito tempo assisti um doc falando da fabricação de violinos artesanais em Minas Gerais. Não lembro o nome do mestre artífice, mas lembro que ele tinha muito esmero na procura para encontrar a madeira certa para cada peça. Escolhia a madeira que lhe parecia a mais apta e tentava desvendar o segredo de cada prancha com o tato, batucava na madeira para tentar ouvir a história individual da árvore, um dom desenvolvido sozinho. Eu, sou boa só para ouvir! (rs*) Beijus
Olá Maria Augusta, Que alegria poder ter acesso a tanto conhecimento num lugar tão agradável quando esse jardim que tem aqui.
Parabéns e obrigada por compartilhar o teu pensamento tão consciente e o teu gosto que me dá tanto prazer. É muito poder aprender com toda essa qualidade.
beijos,
Oi, Maria Augusta,
você me fez uma ótima surpresa no "Varal de Idéias", o que me possibilitou vir até aqui.
Foi ótimo, porque conheci seu blog e me encantei com seu esse seu post incrível sobre as madeiras.
Tenho uma coleção de lápis desde criança, e sou cada vez mais fascinada por ela.
Como já tenho 69 anos, imagine a quantidade de lápis a povoar minha casa e meu coração...
Me encantei com a foto dos seus, e não poderia ser diferente.
Além disso, tudo o que você registra sobre madeiras, instrumentos, música, tudo é mais que interessante. Muito instrutivo, muito sério, muito bonito. Aprendi lendo, quer coisa melhor?
Parabéns pelo blog, obrigada pelo que me disse no "Varal", e beijos "brasileiros" da
Vivina.
Luma, que coisa maravilhosa este artífice que tem o dom de conhecer a historia da arvore pelo som de seu tronco e depois transforma-la em instrumento musical. Obrigada pela visita e um grande beijo.
Selena, vamos aprendendo juntas, vou pesquisando e descobrindo as coisas e trazendo aqui, e saber que isto agrada a vocês me incentiva a continuar a fazê-lo.
Beijos.
Vivina, fiquei contente com a tua visita, creio ter lido que você gosta das canetas Parker além do lapis rs. Acho fascinante esta relação entre a música e as árvores, fico contente que você tenha gostado do post.
Um grande beijo.
Maria Augusta que beleza de post e que música....parabéns e BEM VINDA...Bjs