17.5.10 | Autor: Maria Augusta

Sempre me impressiono com a riqueza e diversidade mundial dos acervos quando vou a um grande museu como o Louvre, ou o Metropolitan e todos os outros museus ocidentais...Quando vemos a Vitoria de Samothrace imponente no alto da escadaria do Louvre, filas para ver a cabeça de Nefertiti em Berlim, os afrescos do Parthenon em Londres, parece que a mundialização no domínio das artes já começou há muito tempo, não é mesmo? Mas parece que não é bem assim...

Busto de Nefertiti no Neues Museum em Berlim que é rclamado pelo Egito, embora o museu recuse baseado em documentos.

Foto : Pierre ADENIS/GAFF-LAIF-REA (fonte : Le Figaro)

Nestes últimos meses aconteceu uma reunião dos aqui chamados paises "do sul" visando fazer com que estas obras de arte que estão dispersas pelo mundo retornem a seus paises de origem. Um que reclama com veemência o retorno de seu prestigioso patrimônio é o Egito e para começar, ele deseja recuperar a cabeça de Nefertiti que está em Berlim e a pedra da Roseta, que está no British Museum em Londres. Por seu lado, a Grécia está solicitando à Inglaterra a volta dos altos relevos em mármore do Parthenon para serem reinstalados em seus devidos lugares originais, o Mali reclamou suas estatuetas que estavam no museu de artes primitivas de Paris e por aí vai...e será que eles tem chance de recuperá-las?

Mármores do Partenon, que estão no British Museum e cuja devolução é solicitada pelos gregos.

(Fonte : Le Figaro)

Parece que tudo depende da forma como elas foram adquiridas, se legalmente ou não. Por exemplo, em um encontro com o presidente do Egito recentemente, Nicolas Sarkozy devolveu a ele cinco fragmentos provenientes de um túmulo situado no Vale dos Reis que teria pertencido a um dignatário egípcio que viveu entre 1550 e 1290 aC. O museu do Louvre havia comprado estas peças recentemente "de boa fé" e no entanto elas teriam saido ilegalmente do Egito, que exigiu sua devolução.

Zodíaco de Denderá, há 200 anos no museu do Louvre e cuja restituição é solicitada pelos egípcios.

(Fonte : Le Figaro)

E não são apenas as obras oriundas de monumentos históricos que estão sendo reclamadas. Durante a Segunda Guerra Mundial por exemplo, muitas famílias principalmente judias tiveram obras de arte confiscadas pelos nazistas, que atualmente se encontram espalhadas pelo mundo em posse de particulares e de museus. Os descendentes destas famílias tem tentado recuperá-las, como é o caso da obra de Gustave Klimt "O retrato de Adele Bloch-Bauer", devolvida recentemente à sobrinha da retratada após um longo processo movido "por razões sentimentais"...as quais duraram algumas semanas após a recuperação da obra, até que o quadro foi vendido a um milionário americano por 135 milhões de dólares.

Retrato de Adèle Bloch-Bauer de Klimt, que foi devolvido à família da retratada pelo museu Belvedere de Viena.

(Fonte : Le Figaro)

Em todo caso, tudo isto ainda via dar muito "pano para mangas". Afinal uma obra de arte pertence ao país que a produziu ou à humanidade inteira? O que foi obtido legalmente no passado pode ser reclamado diante da situação política atual? E o que quer dizer "legalmente", uma presa de guerra era considerada como legítima pelo vencedor, mas isto é ético? E os paises que reclamam as obras será que são capazes de mantê-las em bom estado? A presença destas obras em museus onde podem ser vistas por milhares de pessoas não seria mais interessante para divulgar o patrimônio cultural de um país? Enfim são muitas as perguntas e as respostas são extremamente relativas...


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19 comentários :

On 17 de maio de 2010 às 18:41 , Alexandre Kovacs disse...

Maria Augusta, muito interessante o tema desta postagem. A maior questão é mesmo saber a quem pertence a arte. É claro, no caso da arte pertencer mesmo a alguma pessoa ou país...

 
On 17 de maio de 2010 às 18:41 , Alexandre Kovacs disse...

Maria Augusta, muito interessante o tema desta postagem. A maior questão é mesmo saber a quem pertence a arte. É claro, no caso da arte pertencer mesmo a alguma pessoa ou país...

 
On 17 de maio de 2010 às 19:50 , João Menéres disse...

Complexos problemas envolvem naturalmente esta questão.
No caso de pilhagem bélica, NÃO TENHO DÚVIDAS.
FORAM ROUBADAS !
Devem ser restituídas à origem.
Mas, há casos muito difíceis de resolver, sem dúvida, pois a LEITURA do ILEGAL x LEGAL só varia na 3ª vogal.
Ao ouvido, a diferença, muitas vezes, imperceptível...
Estou certo, no entanto, que começou uma nova Era e, embora possa levar tempo, a maioria retornará às suas origens e não deixarão de pertencer à humanidade.

Mais uma postagem com muito interesse!

Parabéns pela forma como explanáste a questão.
Merece ser MUITO DIVULGADO este CÔTÉ !!!

Um beijo com muita admiração pelo teu trabalho e pelo teu intelecto.

 
On 17 de maio de 2010 às 20:33 , http://saia-justa-georgia.blogspot.com/ disse...

Maria Augusta, tudo bem?

Ah, que questao difícil e o Joao escreveu com muita propriedade.

Também acho que as roubadas devem voltar a sua origem. Mas há milhoes envolvendo tudo isso e espero que em nome da Arte nao se faca uma guerra.

Adorei a questao aqui abordada por você.

Embora estivesse frio em Paris, houve muitos momentos quentes também e que nem percebemos, rs.

Um beijao e boa semana

 
On 17 de maio de 2010 às 21:24 , Anônimo disse...

Respostas MUITO relativas!
Bom post, como sempre!

 
On 18 de maio de 2010 às 09:01 , Maria Augusta disse...

Kovacs, "a quem pertence a arte" é uma boa pergunta, no mundo atual ela pertence a seu criador, mas sua beleza deveria estar ao alcance de todos...
Um abração.

João, você é gentil como sempre, o Côté agradece tuas palavras. Quanto à pilhagem bélica, esta foi a origem de muitas obras que alimentam os grandes museus, Napoleão por exemplo, trouxe muitos quadros dos paises conquistados, alguns foram devolvidos quando ele perdeu o trono, mas outros hoje pertencem ao museu do Louvre...É realmente uma questão polêmica depois de tanto tempo.
Abraços.

Georgia, esta distinção entre as roubadas, as adquiridas "legalmente" mas compradas dos que roubaram, presas de guerra, presas da colonização, é que está difícil de se definir depois de séculos. Também espero que não haja guerras devido às obras de arte.
Que bom que vocês aproveitaram bem Paris.
Um grande beijo.

Eduardo, é verdade!
Um abração.

 
On 18 de maio de 2010 às 19:05 , sonia a. mascaro disse...

Maria Augusta,
Achei muito interessante as questões que você coloca neste post. Se foram obras roubadas, certamente elas devem voltar aos seus devidos donos. Mas existem muitas nuances em relação à forma em que essas obras foram parar em outros países, em outros museus ou em outras mãos... é um tema bem complexo.
Como sempre, você tem feito em seu blog um grande espaço cultural. Parabéns!
Beijos.

 
On 19 de maio de 2010 às 19:38 , Marco Antônio disse...

Gostei muito do seu post, mas sinceramente não tenho uma opinião formada quando a esse assunto.
Acho muito complicado esse assunto e pede uma reflexão atenta quanto a quem pertence tudo isso.
E suas perguntas são pertinentes, mas a questão final (a resposta) é que eu acho difícil de obter, enfim, bom senso é preciso e talvez esse seja o problema.
Grande abraço

 
On 20 de maio de 2010 às 09:43 , Maria Augusta disse...

Sonia, acho que a solução seria que os grandes museus tivessem uma parte "internacional" na qual os outros paises pudessem trazer suas obras e expô-las, para ter maior visibilidade.
Beijos.

Marco, pois é, e a dificuldade maior é que sempre são levados em conta critérios políticos, sem grande objetividade.
Abraços.

 
On 20 de maio de 2010 às 10:07 , O que elas estao lendo!? disse...

Maria Augusta, temos entrevista e sorteio no blog com um autor bem conhecido na blogesfera. Acho que você vai gostar muito.

Um beijao

 
On 21 de maio de 2010 às 03:13 , sonia a. mascaro disse...

Maria Augusta,
Muito obrigada por tão carinhosas palavras e pelos votos de felicidade ao nosso netinho Daniel.
Um grande beijo!

 
On 21 de maio de 2010 às 09:57 , Meire disse...

Maria Augusta é uma questao dificil e complicada, mas como vc disse, sera q os paises que reclamam as obrassão capazes de mantê-las em bom estado? Nao seria melhor ficar onde estao e bem cuidadas?

bjs

 
On 23 de maio de 2010 às 12:43 , Jorge Pinheiro disse...

Uma excelente pergunta. Os frncesses roubaram daqui imensas obras de arte (e suspeito que os "amigos" ingleses ainda levaram umas coisitas. Nás então temos de devolver ao Brasil ouro que nunca mais acaba. Não sei se vai em peças ou tem de ser refundido... Enfim, um monte de questões.

 
On 25 de maio de 2010 às 16:28 , Lunna Guedes disse...

Carissima, desculpe a ausência, mas estava imersa na minha melancolia. Sim, sempre que termino uma história fico em mim, me sentindo meio pelas laterais. Mas isso passa... rs

Fiquei aqui pensando sobre as indagações e as considerações que foram feitas por você neste post. Acho que o problema esta na tal palavrinha que atualmente me assombra "política". Tudo ultimamente é muito político.
E não sei, sou sincera em dizer que prefiro essas peças nos museus, acho que é excelente lugar pra elas, pelo menos muitos olhos tem acesso.
Eu não consegui concordar com a postura do Sarkozy que também teve motivação política. Claro.
E essas tais questões sentimentais sempre me causam arrepios, me lembra a minha família que até hoje alegam "questões sentimentais" por brigar por causa de meia dúzia de tostões deixados pelos nonos. Aliás, a briga começou enquanto eles ainda estavam vivos e permanece até os dias atuais.
Bacio carissima

 
On 26 de maio de 2010 às 08:34 , http://saia-justa-georgia.blogspot.com/ disse...

Bom dia Maria Augusta, passei ontem por aqui e agora.

Com este tempo maravilhoso ando cheia de preguica de vir por aqui mais tarde, rs.

O jardim está lindo e florido e eu ando preferindo visitá-lo mais vezes durante o dia, rs.

Um beijao e espero que esteja tudo bem com vocês

 
On 26 de maio de 2010 às 21:41 , Lino Resende disse...

Maria Augusta:
É ótimo ir a um museu ou galeria e ver estas grandes obras. Mas sou favorável à devolução a seus antigos donos, inclusive no caso do que foi retirado dos judeus.

 
On 28 de maio de 2010 às 00:26 , Fatima Cristina disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
 
On 28 de maio de 2010 às 00:26 , Fatima Cristina disse...

Olá Maria Augusta,

Seu post é bem oportuno nesta época de devolução de tantas obras de arte pelo mundo. Suas perguntas são pertinentes, mas as respostas além de relativas têm bases políticas... como tudo na vida... Na arte não é diferente...

Maria Augusta, estou sem tempo para visitar e escrever, mas sempre que posso bato os olhos por aqui.

Beijos!

 
On 29 de maio de 2010 às 17:32 , endim mawess disse...

obras de arte e literarias não pertencem a paises e sim a humanidade, florestas sim pertencem a países. seu post está muito bom pareceu uma reportagem da veja só que mais bem explicado.